Bem-vindos ao Mundo Maravilhoso dos Portais!
Rodrigo Parreira
Jerry Yang and David
Filo eram estudantes de pós graduação, quando seu orientador resolveu viajar
por um ano, em um tipo de programa bastante comum nas universidades americanas
chamado de ano sabático. Professores universitários e cientistas em geral, depois
de um período determinado (em geral 7 anos) têm direito a um ano fora de seu
departamento de origem, em geral como pesquisador visitante de alguma outra
universidade no mundo.
Os dois estavam, por assim dizer abandonados, e começaram a descobrir a Internet.
Muito mais divertido que escrever uma tese, devemos reconhecer. Com o tempo,
dada a multiplicidade de conteúdos que descobriam, iam catalogando os sites,
numa espécie de lista de bookmarks gigante. Atualmente Jerry e David encontram-se
com seus cursos de doutorados trancados por prazo indeterminado e sua lista
de bookmarks se transformou numa empresa valorizada em 90 bilhões de dólares
chamada Yahoo!
Êxitos como esse desencadearam uma febre no mundo inteiro, com os mais variados
tipos de pessoas tentando replicar o modelo de negócios de Jerry e David, alguns
foram mais bem sucedidos, outros menos. Mas afinal, o que é um portal? O nome
se origina do tempo em que esses sites se auto-definiam como as portas de entrada
para a Internet. Sua grande força consistia em serem elementos de organizaçao
de um conteúdo por definição e por natureza caótico e gigantesco, ou seja, a
própria Internet.
Mas e hoje em dia? Como evoluiu o conceito de portal? Atualmente portais são
agregadores de conteúdos variados produzidos por terceiros, como notícias, artigos,
informações culturais, etc?
Mas não apenas isso. Um portal também oferece os mais variados serviços a seus
usuários, como por exemplo agenda, salas de chat, caixas de correio eletrônico,
motores de busca na Internet, etc. A idéia é que portais vão gerar em torno
de si comunidades de usuários da rede, que por algum motivo se identificam com
aquele site. Essas comunidades podem ser, segundo a denominação mais corrente,
"horizontais" ou "verticais". Uma comunidade horizontal
é aquela que reúne gente dos mais variados tipos, interessada nos mais variados
assuntos, sem uma coerência temática. Um exemplo de portal horizontal (ou seja,
um portal que gera em torno de si uma comunidade deste tipo) é o próprio Yahoo!.
Há também os chamados portais verticais, especializados em um tema específico,
como por exemplo negócios, mulheres, adolescentes etc. Um exemplo nesse caso
seria o próprio Surf.
Muito bacana, mas de onde vem o dinheiro? Em geral de publicidade. O modelo
de negócios de um portal horizontal é baseado na atração de tráfego, representado
pelos usuários que vão ao site para utilizar seus serviços ou entrar em contato
com seu conteúdo. Quanto maior o tráfego, mais valor tem o site como suporte
publicitário.
Para um portal vertical o modelo é parecido mas um pouco mais especializado.
Esse tipo de site não necessita ter um volume tão grande de tráfego como um
portal horizontal para ser valorizado como suporte. Nesse caso entra em jogo
a segmentação. Dada sua consistência temática, um membro de uma comunidade vertical
acaba tendo mais valor, uma vez que se pode atingi-lo com uma publicidade mais
enfocada em seus interesses.
Nos últimos meses se tem percebido a potencial importância que o comércio eletrônico
vai a ter para os portais. Essas empresas têm investido pesadamente em parcerias
e plataformas de comércio eletrônico, tentando tornar-se intermediários entre
comerciantes e consumidores, extraindo uma margem da transação comercial quando
essa se consuma. No entanto, embora crescendo de importância dentro de seus
respectivos balanços, os ingressos provenientes do comércio eletrônico ainda
representam em média pouco mais de 20% do total faturado pelos mais importantes
competidores neste mercado.
E o futuro? As perguntas que estão nas cabeças de todos aqueles que hoje estudam
a Internet são importantes e de difíceis respostas: Quantos portais um mercado
pode acomodar? Qual é a massa crítica de usuários necessária para a sobrevivência
do negócio? Como reter usuários? Qual a importância do conteúdo local? Como
integrar plataformas de portais fixos para gerar versões passíveis de acesso
em mobilidade? Para muitas destas questões as respostas ainda não estão claras
e o leitor pode ter certeza de que nos próximos meses esses serão importantes
temas de discussão no mercado.
Rodrigo Parreira é doutor em Física Matemática pela USP e consultor em estratégias
de negócios em Internet